Em Curitiba, Coppola foi penetra em festa de 15 anos, provou carne de onça, viu jogo do Athletico e deu palestra a estudantes

  • 30/10/2024
(Foto: Reprodução)
Diretor de 'O Poderoso Chefão' visitou cidade em 2003 para coletar inspirações para o filme 'Megalópolis'. Mais de 20 anos depois, nesta quinta-feira (31) volta a Curitiba em meio ao lançamento do longa no Brasil. As aventuras sociológicas de Francis Ford Coppola por Curitiba Da suíte presidencial no 16º andar de um hotel na região central de Curitiba, o diretor de cinema Francis Ford Coppola podia observar a Biblioteca Pública do Paraná, o centro histórico do Bairro São Francisco, o horizonte de prédios e, à distância, a Serra do Mar. Era com essa vista que, em 2003, o diretor de "O Poderoso Chefão" buscava colecionar ideias para a produção do filme "Megalópolis". Mais de 20 anos depois, a obra finalmente ficou pronta e será lançada nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (31), marcando também o retorno do diretor à capital paranaense. ✅ Siga o canal do g1 PR no WhatsApp ✅ Siga o canal do g1 PR no Telegram Em Curitiba, o cineasta vai receber do Governo do Paraná a Ordem do Pinheiro, considerada a mais alta honraria do estado. A agenda do diretor inclui visita ao Cine Passeio e uma masterclass a alunos de Cinema da Universidade Tuiuti, da mesma forma que fez quando esteve no Brasil em 2003. "Megalópolis" mostra o embate entre um prefeito de uma cidade chamada "Nova Roma" e um arquiteto que sonha em construir um futuro utópico. Quem dá vida aos protagonistas são os atores Giancarlo Esposito e Adam Driver, respectivamente. Em palestra em São Paulo nesta semana, o diretor confirmou que o arquiteto protagonista é inspirado diretamente no ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba Jaime Lerner, arquiteto e urbanista de quem ficou amigo quando visitou a capital paranaense. Lerner morreu em 2021 e foi considerado um dos urbanistas mais conceituados do país. No trailer brasileiro do longa, o personagem principal afirma que deseja criar uma cidade "em que as pessoas possam sonhar sobre". Em 2003, Coppola já havia declarado que via soluções inovadoras em Curitiba, mas também problemas de cidades grandes. "Estou chocado com estas pichações. Se a parede fosse pintada logo após a primeira, outras não viriam. Curitiba tem soluções inovadoras, como um ônibus que funciona como o metrô de superfície, as calçadas largas para pedestres… mas, assim como todas as grandes cidades de hoje, precisa resolver o problema da poluição visual e sonora. Na Megalópolis, minha versão do lugar onde gostaríamos de viver daqui a 10 anos, tudo será perfeito", disse à RPC na época. Em 2003, pixações em Curitiba chamaram a atenção de Coppola RPC Ao longo de várias semanas o g1 entrevistou pessoas com quem Coppola teve contato na passagem por Curitiba em 2003 e que relatam detalhes do dia a dia do diretor na capital paranaense. A amizade entre Coppola e Jaime Lerner, por exemplo, começou após uma ligação feita pelo ex-governador do Paraná ao empresário Alceu Vezozzo Filho, CEO da Rede de Hoteis Bourbon. No contato, ele pediu que Alceu o apresentasse para o cineasta. O hotel no qual o cineasta estava hospedado, no centro da cidade, pertence à rede. A amizade entre o cineasta e o urbanista se concretizou em um sábado, após os três dividirem uma feijoada no hotel. "Ele conversava muito com o dr. Jaime sobre arquitetura e urbanismo", lembra Vezozzo. Illana Lerner, filha do ex-governador, lembra que o diretor almoçou na casa da família e chegou a acompanhá-los em um jogo do Athletico Paranaense, na época, ainda "Atlético". Na Arena da Baixada, o cineasta assistiu a uma partida contra o Paraná Clube, que terminou com a vitória do time da casa por 1 a 0. Coppola assistiu a um jogo entre Atlético Paranaense e Paraná Clube Reprodução As aventuras sociológicas de Coppola por Curitiba A coleta de referências para o filme não se limitou à vista do 16º andar que Coppola tinha na luxuosa suíte presidencial do hotel e das conversas com Jaime Lerner e virou uma grande aventura sociológica do diretor pela capital paranaense. Em ritmo de turista, o cineasta passeou pela cidade sem querer ser tratado como celebridade. Porém, nem sempre conseguiu passar despercebido. "Ele veio sem muito alarde, mas virou figurinha carimbada aqui. Ele ia em tudo que é lugar", lembra o jornalista Marden Machado, autor de guias de cinema e curador do Cine Passeio. Com vontade de mergulhar na cultura local, Coppola foi penetra em uma festa de 15 anos, ficou amigo de garçons e deu palestra a estudantes. Fez também passeios típicos de turistas, como visitar estações tubos, andar de ligeirinho e na linha turismo. Além disso, desfrutou das mais variadas iguarias locais, como carne de onça e pinhão. Em um dia, literalmente colocou a mão na massa para criar a própria receita de pizza. Cada pessoa tem um relato diferente sobre o contexto das andanças do diretor por Curitiba. No entanto, a vontade de passar despercebido, o bom humor e a educação para atender os admiradores foi uma universalidade entre as histórias, que às vezes se contradizem em detalhes, mas que justificam os esquecimentos por conta da passagem do tempo. Mesmo 20 anos depois, as fotografias ao lado de Coppola e os itens autografados são guardados com carinho e cuidado pelos fãs e são uma prova de que ele já esteve passeando pelas terras de araucárias: nunca sozinho e sempre acompanhado de Dean Tavoularis, diretor de arte de O Poderoso Chefão 2, e do poeta Tony Dingman. Coppola, Dean Tavoularis e Tony Dingman conversando em um banco de praça de Curitiba RPC Um cappuccino e uma vista para a rua Uma das fotos mais emblemáticas da passagem do diretor por Curitiba foi feita pelo fotógrafo Orlando Kissner, que o encontrou nos arredores da Biblioteca Pública do Paraná e fez a imagem. Ele conta que logo depois do registro, Coppola foi tomar um café nas proximidades. Veja abaixo: O local foi o Cafe Mettropolis, um dos pontos preferidos do diretor enquanto esteve na cidade, na esquina das ruas Carlos de Carvalho e Desembargador Ermelino de Leão. Quase diariamente, por volta das 9h o diretor e a dupla que o acompanhava sentavam sempre na mesma mesa, como lembra Vitor Lassen, então proprietário do estabelecimento. Coppola nas proximidades do Cafe Mettropolis, no centro de Curitiba Orlando Kissner/Imagem cedida Coppola e Dingman pediam cappuccinos. Já Tavoularis levava o próprio chá e pedia um copo com água quente para poder fazê-lo. "Antes de entrar, eles iam ao lado do café, onde era uma frutaria, compravam bananas, e aí iam para o café. Sentavam sempre na mesma mesa, era uma mesa interna, era a única mesa de quatro lugares que a gente tinha, mas era uma mesa que ficava encostada com a vista para fora. Ele tinha toda a visualização do movimento da rua e das mesas de fora", conta Vitor Lassen. Nas visitas, Lassen observou que o trio cortava a banana com as mãos, então mostrou a eles como cortá-las em rodelas. "Eles nunca tinham comido daquele jeito. A partir desse dia, passaram a pedir, todas as manhãs, talheres para comer as bananas", lembra. Depois do café, Coppola passava a atender os fãs, que faziam filas para autógrafos e fotos. Coppola atendendo a uma fã na saída do hotel onde esteve hospedado em Curitiba RPC Entre copos e ventiladores Na decoração que compunha o Cafe Mettropolis, ventiladores com um visual retrô chamaram a atenção do diretor, que perguntou ao proprietário quem era o fornecedor. A ideia do cineasta era encomendar alguns deles para levar ao resort do qual é dono, em Belize, na América Central. "Ele curtiu para ele querer levar para lá, perguntou como fazia para comprar. E era sobre encomenda, era meio demorado, mas eu consegui falar com a fábrica em São Paulo, eu expliquei para quem era. Os caras inicialmente duvidaram que era para o Coppola", conta Lassen. Coppola no Caffe Metrópolis Reprodução A dúvida só foi sanada depois que a presença do diretor em Curitiba virou notícias em jornais e revistas. Após isso, em menos de dez dias, os nove ventiladores com estilo dos anos 50 foram produzidos e enviados à capital paranaense. Dos ventiladores comprados, um deles Coppola presenteou Vitor Lassen, que conta ter o item guardado em uma caixa até hoje. O presente foi retribuído com outro objeto que havia chamado a atenção do diretor: os copos americanos. O diretor pôde voltar para os Estados Unidos com 250 copinhos para serem utilizados em um café mantido por Coppola na Califórnia. 'Two bananas' Leila Luiza Kaiel lembra bem do diretor sentado na mesa do Cafe Mettropolis. O pai dela era proprietário da Casa de Frutas Canadá, vizinha do estabelecimento, e justamente onde Coppola comprava as bananas que comia de café da manhã. As frutas, que ficavam expostas em caixas organizadas na frente do comércio, chamaram a atenção do cineasta, que não hesitou em pedir "two bananas". Seu Nagib deixava os produtos expostos na Casa de Frutas Canadá Arquivo Pessoal/Leila Luiza Kaiel Coppola visitou a casa de frutas algumas vezes enquanto esteve em Curitiba. No entanto, mesmo com as diversas outras frutas tropicais à disposição, o pedido era sempre o mesmo: apenas duas bananas. "A casa de frutas do meu pai guiava as pessoas pelo perfume. Ele parou e ficou encantado. Falou com meu pai e pediu 'two bananas'. Acho que lá nos Estados Unidos eles são acostumados a comprar em unidade e aqui a gente compra em peso. Meu pai serviu, ele comeu e adorou. Cada vez que ele ia ao Cafe Mettropolis ele passava na frutaria do meu pai", lembra. Por conta das visitas frequentes na casa de frutas, ele e o proprietário, Nagib Kaielm, desenvolveram uma amizade. Ao fim da passagem pela cidade, Coppola deu uma garrafa de vinho da própria vinícola para o comerciante. Carne de onça, pinhão e cachaça e um penetra em festa de 15 anos Coppola em Curitiba RPC Mas não foi só de bananas e cappuccinos que o cineasta viveu em Curitiba. Disposto a ter a experiência completa, Coppola experimentou pratos típicos do Paraná. Parte da aventura gastronômica começou após ele ser reconhecido por Fabrício de Macedo, então proprietário do Bar Curityba. O empresário convidou o cineasta para visitar o clássico boteco, que hoje não existe mais. Lá, Fabrício ofereceu o carro chefe da casa: carne de onça. Provavelmente precisou explicar ao diretor – assim como normalmente é preciso esclarecer a qualquer turista – que não se trata, de fato, de carne do felino, mas, sim, uma versão do prato francês steak tartare, com carne bovina crua moída, temperada com alho, cebola, pimenta-do-reino, mostarda, azeite de oliva e cebolinha. Um quitute de pinhão enrolado no bacon também foi oferecido ao cineasta, que o degustou com uma clássica cachaça de banana do litoral paranaense. Os dois trocaram telefones e, nos dias seguintes, o empresário recebeu o diretor outras vezes no boteco. Em uma sexta-feira, já de smoking e gravata borboleta, Fabrício terminava de se arrumar para um aniversário de 15 anos quando recebeu uma ligação de Coppola dizendo que o aguardava no bar. "Como é que eu vou dizer não para o cara? A gente já estava de saída de casa, mas não tinha como deixar uma figura dessa sem atendimento ou esperando. Nós não estamos falando de qualquer coisa, estamos falando do Poderoso Chefão", lembra. Ao chegar no boteco, Coppola questionou onde Fabrício ia tão elegante e com o "Black Tie" tão bem cortado. Fabrício, então, explicou a cultura das jovens debutarem como parte de um rito no qual famílias tradicionais apresentam as moças à sociedade com bailes de gala em clubes célebres da cidade. Percebendo o interesse do cineasta, Fabrício estendeu o convite para o evento. Antes de aceitar, lembra que Coppola hesitou por estar "apenas" trajado com um terno de linho branco. Preocupação que logo foi afastada pelo empresário. "Você pode ir até de sunga que não tem problema", disse ao diretor. Coppola ao lado da debutante em uma festa de 15 anos em Curitiba na qual foi como "penetra" Fabricio de Macedo/Arquivo Pessoal Um problema a menos, outro a mais: Fabrício ligou para o amigo pai da debutante para informar que a festa teria um convidado a mais na festa no Graciosa Contry Club. "Falei: 'Ô Marcelo, posso levar um amigo na festa? Vou levar o Coppola'. Ele ainda brincou: 'Ah, então traga o Al Pacino também'", conta. Ao chegar no salão onde ocorria a celebração, Fabrício lembra que o amigo se assustou ao ver o diretor: "Cara, por que você não me avisou?", questionou. "Eu falei! Você que não acreditou", retrucou o empresário. A festa foi bem aproveitada pelo diretor, que comeu e dançou aos os principais hits dos anos 2000 que bombavam as festas de debutantes na época. Mãos na massa O garçom Cleber ao lado do amigo Coppola, em uma das visitas do diretor ao restaurante italiano Cleber Souza/Arquivo Pessoal Para somar às experiências gastronômicas por Curitiba, Coppola passou pelo A Pamphylia, um tradicional restaurante italiano da capital e que tem a tradição de estampar o hall de entrada com fotos de celebridades que já passaram pelo estabelecimento. Foi uma pequena coincidência que o ligou ao garçom Cléber de Souza. Na época, Cléber havia começado um curso de inglês e, querendo treinar o idioma, era o chamado para atender os clientes "gringos". Naquele dia, o estrangeiro era ninguém mais ninguém menos que Coppola. A dica foi dada por outro cliente, que reconheceu o diretor e avisou ao garçom que precisava sair para buscar alguns DVD's em casa. Imediatamente, Cléber achou que o rapaz queria sair sem pagar, mas deu um voto de confiança. O cliente voltou, assinou os DVD’s com o diretor e pagou a conta. "A gente sabe que americano era tudo parecido, com camisa floral… Eu não imaginaria que era capaz que Francis Ford Coppola iria estar ali", lembra. Coppola na cozinha do restaurante fazendo a própria pizza Reprodução Talvez o clima italiano do restaurante relembrou as origens do diretor, que voltou ao local algumas vezes e, em uma dessas visitas, resolveu colocar a mão na massa e criar o próprio sabor de pizza. "Ele fez a pizza à moda dele. A pizza tradicional de lá não é a mesma da nossa aqui. A massa é diferente. Os ingredientes são os mesmos, mas o preparo é diferente, o tempo que ela fica no assando também", conta Cléber. Até hoje a receita consta no cardápio e os clientes podem comer uma pizza de massa grossa, com mozzarella, molho de tomate fresco, azeite extravirgem e manjericão. Talvez, as pizzas modernas do estilo "brasileiro" – como estrogonofe, tilápia, sushi e até pudim – deixariam corados qualquer um dos mais durões integrantes da família Corleone. 'Finjam que estão acostumados' Durante a passagem por Curitiba, Coppola deu palestra a estudantes de cinema Denize Araujo/Arquivo Pessoal Ao saber da presença de Coppola na cidade, a professora de cinema Denize Araujo correu para deixar uma carta na recepção do hotel em que ele estava hospedado. Dentro do envelope havia um pedido para que o diretor falasse por meia hora a estudantes da especialização em cinema da Universidade Tuiuti. A dica da visita de Coppola foi dada à professora pelo então aluno Marden Machado. O convite foi deixado sem muita expectativa, motivado pela máxima "o não já tem". "Quem iria dar a aula era outro professor e ele até caçoou um pouco. Falou: 'Então escreveu uma cartinha para o Papai Noel?'", lembra Denize. A resposta de Coppola chegou por e-mail. Surpreendendo a professora, ele disse que aceitava o convite, mas que meia hora era muito pouco. Antes de Coppola chegar à universidade, a professora pediu para que os alunos fingissem normalidade. Provavelmente, a intenção existiu, no entanto, assim que o diretor pisou na sala, os estudantes ficaram em polvorosa. "Quando eu cheguei eu falei para os alunos: 'Finjam que vocês estão habituados a receber cineastas'. Não deu certo. Era só autógrafo para lá e foto para cá, ficaram quase loucos", lembra, bem-humorada, a professora. Coppola ao lado da professora Denize Araujo em palestra aos alunos de cinema RPC Após o frenesi inicial e com a sala cheia, a conversa com os estudantes se estendeu por cerca de duas horas. Naquele sábado, o diretor respondeu a perguntas sobre o futuro do cinema, como foi trabalhar com Al Pacino e De Niro, a indústria de Hollywood, entre outras questões. Aos estudantes, ele revelou que assistiu a uma versão inacabada do filme "Chatô, o Rei do Brasil". A obra, produzida por Guilherme Fontes, foi concluída e publicada só 12 anos depois, em 2015. Coppola deu detalhes sobre a amizade que tinha com o também cineasta Glauber Rocha, um dos principais nomes do movimento Cinema Novo e responsável por filmes como "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1963) e "Terra em Transe" (1967). Considerado um "elemento subversivo" pela ditadura militar que assolava o Brasil, Glauber Rocha se exilou. Foi na casa de Coppola que ele encontrou refúgio e consolo. "Acho que vocês gostariam de saber que eu era amigo do Glauber Rocha. Ele ficava na minha casa em San Francisco, porque estava tendo um pequeno problema com o governo. Eles não deixavam ele voltar ao Brasil. Então, nós costumávamos beber e ouvir Villa-Lobos e ele chorava: 'Eu quero voltar para casa, para o meu país'", disse Coppola aos estudantes. Em outras ocasiões, Coppola chegou a comparar a qualidade das produções de Glauber com os trabalhos do russo Sergei Eisenstein ("Encouraçado Potemkin") e do estadunidense Orson Welles ("Cidadão Kane"). O retorno de Coppola para uma nova masterclass em 2024 também se deve ao interesse destemido de Denize Araujo. Ao saber que o cineasta estava no Brasil para o lançamento de Megalópolis, a professora respondeu a um e-mail dele de 2004, no qual dizia que tinha vontade de visitar Curitiba novamente. "Está ai a sua oportunidade", disse a professora ao diretor, que respondeu o email aceitando o convite. Primeiro entrevistado: Francis Ford Coppola Luís Guilherme Agostinho Rodrigues ao lado do diretor Francis Ford Coppola Arquivo Pessoal Naquela sala, em 2003, ouvindo atentamente a cada palavra, estava Luís Guilherme Agostinho Rodrigues. Jornalista e entusiasta de cinema, ele ficou sabendo da visita do diretor depois que o colega Marden Machado assoprou a presença de Coppola na universidade. Rodrigues lembra que, na época, estava começando a carreira como jornalista e no primeiro emprego da área. Na segunda-feira após a palestra, o jovem chegou apressado na redação para contar aos colegas a novidade. "Estão sabendo que o Coppola está aqui em Curitiba e está zanzando por aí?", lembra de ter contado aos colegas. Naquela altura, a notícia já havia se espalhado e o diretor topou dar uma coletiva de imprensa. "Depois da coletiva eu consegui falar só eu e ele, no cantinho, com a câmera. Era a minha primeira entrevista profissional e foi logo com o Coppola. Fiquei extasiado. Foi uma experiência única", lembra. Amizade que virou negócio Alceu Vezozzo e Coppola são sócios em um hotel boutique em Buenos Aires Alceu Vezozzo/Arquivo Pessoal Em 2003, Alceu Vezozzo Filho recebeu um telefonema de uma amiga pedindo que ele reservasse uma "suíte bacana" do Hotel Bourbon para três colegas. Ela enviou o nome dos hóspedes por e-mail. Na mensagem, constava "Francis Ford Coppola", o que até deixou o empresário pensativo por alguns minutos, mas depois chegou à conclusão que se tratava de um homônimo. Cerca de uma semana depois, enquanto estava no escritório, Alceu foi chamado para receber o tal hóspede, que o aguardava em uma charutaria ao lado do hotel sentado em um sofá que ocupava quase toda a parede do estabelecimento. A visita surpreendeu o empresário: não era um homônimo, era, de fato, o verdadeiro Francis Ford Coppola. Começava ali uma amizade que dura até hoje e que, tempos depois, virou negócio. Alceu descreve o amigo como uma pessoa muito espontânea e lembra que, enquanto esteve em Curitiba, Coppola passava tempo fazendo observações e anotações em um caderno. "Ele é uma pessoa muito curiosa, gosta de conhecer, de perguntar... Eu sabia que ele estava escrevendo alguma coisa, porque ele ficava no quarto dele escrevendo. Tinha algo que ele estava concebendo, mas eu respeitei e nunca perguntei", descreve. Alguns anos depois, Coppola estava vivendo em Buenos Aires para gravar o filme "Tetro" (2009). Na ocasião, ficou em uma casa no bairro Palermo Soho, com um jardim escondido da parte interna da residência. Depois que encerrou a passagem pelo país sul-americano, o diretor transformou o espaço em um hotel boutique. A partir disso, ele fez um convite de negócios a Alceu: juntar a experiência em gestão hoteleira do amigo, com o hotel. O convite foi aceito, estreitando ainda mais o laço entre os dois. Em 2016, Alceu, acompanhado do pai e do filho, se hospedou na casa do diretor na Califórnia. Agora que Coppola retorna ao Brasil para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o empresário pretende convidá-lo para um novo reencontro. "Periodicamente nós nos escrevemos. Agora quero convidá-lo para ficar uma semana em Buenos Aires, agora que ele terminou o filme que, para mim, é uma surpresa, já que era o que ele estava escrevendo lá em 2003, o Megalópolis", conta. Muito da Curitiba experimentada por Coppola em 2003 não existe mais. Naturalmente, com a passagem do tempo, vários dos estabelecimentos pelo qual o diretor passou acabaram fechando e dando lugar a novas coisas. O hotel de Vezozzo se mantém e, mesmo semanas antes da confirmação da vinda do diretor à capital, o empresário não descartava a possibilidade de convidar Coppola para uma nova visita a Curitiba. "O Francis é uma pessoa que decide na hora. Ele é muito espontâneo e resolve rapidamente as coisas. Quem sabe o curitibano o vê novamente?", brincou em entrevista ao g1. Aventura nas Cataratas do Iguaçu Em 2003, Coppola visitou as Cataratas do Iguaçu, no Paraná RPC A passagem pelo Brasil contou também com uma visita a Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná. Repetindo a experiência que teve na capital paranaense, nas Cataratas do Iguaçu o diretor tentou passar despercebido, mas foi reconhecido por fãs, posou para fotos e distribuiu autógrafos. Depois, se misturou com os turistas, tirou fotos com uma câmera de filme e se encantou com as quedas. "É um pedaço espetacular da natureza", descreveu. Coppola fez passeio de barco pelas Cataratas do Iguaçu e levou um "caldo" RPC A experiência visual o incentivou a prolongar o passeio de uma forma não planejada e, bem humorado, Coppola enfrentou a correnteza do Rio Iguaçu em um passeio de barco, que o cineasta classificou "com emoção" depois de levar um "caldo". Assista à reportagem da época: Francis Ford Coppola visita as Cataratas do Iguaçu, no Paraná A passagem pela cidade fronteiriça contou também com um passeio pela Itaipu Binacional. No parque que abriga a hidrelétrica, ele plantou um pau-brasil e também se encantou com a paisagem, prometendo levar a família na próxima visita. Sete anos depois, em 2010, a promessa se cumpriu. Enquanto divulgava o filme Tetro, filmado em Buenos Aires, o diretor passou novamente por Foz do Iguaçu, desta vez acompanhado da esposa Eleanor Coppola. Ele revisitou a hidrelétrica, quis ver a árvore que havia plantado e, na sala de controle, fez perguntas sobre geração de energia elétrica. Depois, navegou pelo reservatório de Itaipu a bordo do Kattamaram e pôde ver a barragem sob outro ângulo. Francis Ford Coppola e a esposa, Eleanor, ao lado de uma árvore que ele plantou em Foz do Iguaçu Itaipu VÍDEOS: Mais assistidos do g1 Paraná Leia mais notícias no g1 Paraná.

FONTE: https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2024/10/30/em-curitiba-coppola-foi-penetra-em-festa-de-15-anos-provou-carne-de-onca-viu-jogo-do-athletico-e-deu-palestra-a-estudantes.ghtml


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